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23 de mar. de 2011

Madrugada quente/DEA



Madrugada quente


Era uma madrugada como destas que se fazem sentir agora – um calor intenso, ar abafado, quase irrespirável – e eu acabei por me deitar sem esperar por ele. Estava em vésperas de exame e tinha preferido ficar em casa naquele Sábado, como fazia sempre que estava em épocas de exame.
Daniel lá tinha ido trabalhar para o bar. Andava esgotado, eu bem o notava nas linhas do seu rosto, nas olheiras evidenciava, as noites mal dormidas e o tempo dividido entre trabalho e estudo, também ele em épocas de exames. Principalmente ao pensar que estava a tão pouco do final.
Deitei-me em cima da cama, com o lençol e o edredon puxado para baixo. No corpo, apenas uns boxers curtinhos e justos, como costumava andar por casa e nada mais, deixando os seios soltos, em contacto com o lençol debaixo do meu corpo.
Naquele apartamento quase não corria aragem e tinha preferido deixar a janela aberta. O Daniel não gostava de ar condicionado.
Os barulhos da noite entravam pela janela, mesmo muito ao longe. O quarto, virado para a rua principal, não era tão sossegado quanto a sala, cuja janela dava para o vizinho curioso que se sentava a ver a televisão junto da sua janela, espichando os olhos para o meu apartamento na tentativa de me ver deambular em trajes menores… ou nua.
O meu quarto recebia directamente as vozes dos amantes da noite e dos caminhares apressados do dia, sem qualquer filtro que afastasse os sons típicos de cidade.
Mas naquela noite, quase três da manhã, o único som que me entrava pela janela era um miado baixinho e o barulho de alguns carros que iam passando lá mais em baixo, na estrada. O miado talvez partisse do Pilas, o gato da vizinha do meu prédio, o já falecido Pilas, o sedutor da área. Ou de alguma gata que o procurava por ali.
Na minha cama, eu. Não uma gata – até porque eu detesto gatos – mas uma leoa à espera da chegada do seu leão. Não sem antes dormitar um pouco.
Pretendia passar apenas pelas brasas e acabei por adormecer profundamente, entrando naquela letargia do sono, impossível de definir se o que se vive é realidade ou apenas sonho. A última coisa que me lembro de sentir foi uma gota de suor que escorregou pelo meio dos meus seios, interrompendo o seu caminho na ponta do meu mamilo, num beijo pausado, caindo depois sobre o meu braço estendido na cama. Senti um arrepio de prazer e enquanto a minha mente embrenhava no sono, o meu pensamento ficou preso na lembrança de que eu e Daniel não fazíamos amor há três dias. A tensão por causa dos exames, o stress de um curso que estavas prestes a chegar ao fim, a proximidade de uma decisão sobre o futuro profissional, o trabalho, eram os factores que nos faziam chegar à noite e atirar para cima da cama, esgotados, adormecendo nos braços um do outros, entre beijos e carinho.
Mas eu sentia já a falta do sexo, e sabia que ele também. Por isso, tentara aguentar acordada naquela noite à sua espera, mas o meu corpo pedia cama e eu obedeci-lhe.
Acordei com o som da água a correr no duche. Sorri – Daniel tinha chegado e estava a tomar o seu duche habitual, antes de se deitar. Senti vontade de me juntar a ele, e se bem o pensei, melhor o fiz.
Saltei da cama, despi os boxers e entrei na casa de banho, sem que ele desse conta. Até que puxei o resguardo da banheira e ele me viu ali, nua, pronta para me juntar a ele. A surpresa nas suas feições foi algo que passou de forma fugaz, dando lugar a um sorriso intenso que terminou numa gargalhada. Entrei na banheira e abracei-o. – Dás-me banho, amor? Estou tão suada… – Dou-te um banho sim. Vou deixar-te toda lavada, limpa e cheirosa.
Claro que o banho se transformou em mais que um simples duche. Ensaboámo-nos, entre beijos, deslizámos a esponja pelos nossos corpos, deixando um rasto de espuma do gel e de calor do desejo. Os bicos dos meus seios e o seu membro eram os pólos de denúncia da volúpia que sentíamos, deixando que fosse o desejo a comandar os nossos gestos, no deslizar de dedos que penetravam em recantos, na pretensão de lavar pele, mas acabando por marca a carne com o fogo da paixão.
Amámo-nos debaixo da água que corria sobre os nossos corpos, comigo no seu colo, abraçando-o pela cintura, as suas mãos agarrando-me pelo rabo, enterrando os dedos nas minhas nádegas ao empurrar-me de encontro ao seu membro, para me penetrar mais profundamente naquele vaivém alucinante. Viemo-nos assim uma vez, perdendo o fôlego, as palavras, e as forças, escorregando pela parede até nos ajoelharmos na banheira, abraçados e trocando beijos lentos e meigos.
Passámos de novo a água pelos nossos corpos, limpámo-nos e fomos para a cama, depois de passar pela cozinha e arranjar uma pequena ceia.
Não demorou muito para nos envolvermos de novo, dando vazão à saudade que os nossos corpos sentiam de se possuir. Deitei-me entre as suas pernas e, agarrando no seu membro excitado baixei o rosto até lhe tocar com os meus lábios. Deliciei-me na pele macia, uma mão repousada na base, acariciando a carne que se me oferecia, a outra subindo e descendo suavemente em toda a sua extensão, enquanto os lábios e a língua iam deixando rastos de saliva, ao som dos gemidos de Daniel. Soergueu-se um pouco e, esticando um braço, tocou-me num seio. Senti a carícia e quis mais, o que me fez levantar e rodar o corpo, de forma a rodear a sua cabeça com as minhas coxas. Em silêncio, pedia-lhe que me fizesse sua assim. E logo senti a sua boca imparável, beijar os lábios quentes que se estendiam para ele, ainda escondendo um clítoris excitado.
Entregámo-nos sem tempo nem espaço a uma paixão que sempre nos dominou, ao desejo que sempre nos deixava aniquilados nos braços um do outro.
Foi uma madrugada intensa. Abrasiva.

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