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21 de nov. de 2009

O NEGRO:


NEGRO

Dia da Consciência

“Estamos em pleno mar” das desigualdades sociais,
Afundando no veleiro antigo da discriminação...
Chicoteando com os olhos os de costumes tribais
Indiferentes à fome, ao humano, aos desta nação. “Estamos em pleno mar” de conflito ideológico,
Presos à mesma corrente do orgulho e preconceito,
Distraímos no mar do ego, do ciúme e “meu” direito,
Sem notar deveres, a fome, a sede, d’outro, é lógico.
“Estamos em pleno mar” loucos no tempo, sem tempo,
Atravessamos o dia, a avenida, só a alma d’outrem não.
Descuidamos do homem porque pensamos em aumento
As crianças não terão futuro na nossa nação, nem coração.
Quando um corpo cai assustamos, só por um instante.
Esquecemos, temos que ir buscar e esmagar o porvir...
Escravizamos nosso ser, o ter, o viver, o modo elegante.
Pisamos, estupramos, abusamos da vida sem sentir.
“Estamos em pleno mar” das cotas, das notas, das mortas...
Crianças pelo crack, sem rumo, sem sina, sem nada.
Jogamos a âncora no dinheiro, no crédito, no cartão,
Na loteria, na correria, na fantasia, na depressão.
Do negro vemos pigmentação, do índio, nem a cultura,
Do branco, só a pele, do oriental, piada tradicional,
Do pobre a ignorância. Do rico achamos que o ter é a cura...
Por que mínimas diversidades, preconceitos criaram esse mal?
“E disse Deus: façamos o homem à nossa imagem”
Se formos assim, então Deus é um ser todo colorido.
Com sentimento, paixões, ilusões, vontades e amigos.
É dia de termos uma consciência que somos humanos.
Consciência que somos humanos... Humanos!
Iguais a ele, a nós, a vós, a “eu”, a “tu”, a todos.
Consciência negra, branca, indígena e das etnias.


de Daniel Rosa da Silva
Americana - SP - por correio eletrônico

RESPOSTA DE UM NEGRO :


Resposta de um negro

Mesquinhez, sim é mesquinhez!
falar de negros como se não fora gente,
porque embora com a epiderme negra,
é como o branco que tem alma e sente.

Fala língua! Porque tu és carne
e por isso mesmo hás de perecer,
ficando a alma imortal sem cor,
que os nossos olhos não a podem ver.

A pele é negra, sim, esta nós vemos,
porém apenas distingue a raça;
com a pele negra posso ter por dento,
um'alma branca como o é a garça.

Embora negra seja a minha pele,
meu interior é alvo como o lírio,
por isso quando depreciam a um negro,
saio sorrindo sem sofrer martírio.

Sou negro sim, disto me orgulho,
meu sangue é puro, é sangue varonil,
se meu país é grande e valoroso,
se deve ao negro isto que é o BRASIL.

O negro é forte resiste às intempéries,
chuva, sol, sereno, frio, calor,
trabalha sempre sem cansar os braços,
porque o negro trabalha por amor.

Por amor, sim, amor à liberdade
que lhe fora devolvida um dia,
pela Princesa que assinou a LEI,
chamada ÁUREA, a Lei da Alforria.


de Joelson Araújo Matos
Itabuna - BA - por correio eletrônico


CONCIENÇIA:


Consciência


Para que o racismo vá embora
Precisamos nessa hora
Termos consciência
De que tanta violência
Só nos leva à decadência Temos que lembrar
Que o negro aqui está
Sempre para ajudar
Nas lavouras trabalhando
Na culinária alimentando
Na nossa cultura sempre aprimorando
A falta de decência quer os negros separar
Dos brancos mas não vai dar
Pois o Dia da Consciência Negra prova
Que no Brasil tudo renova
E todos têm seu lugar.


de Gabriela Gomes
Salvador - BA - por correio eletrônico

AS MINHAS SINAS :


Sina Menor
 
 
Na palma da minha mão
Diz-me a cigana vidente
Ver nas linhas traçadas
Fatalidades pendentes
 
Conta-me não ver o amor
Nem sinais de felicidade
Confessa até ter temor
De me revelar a verdade
 
Lembra-se ter ouvido uma lenda
Remontando à antiguidade
Da memória dos tempos oriunda
Narrada na comunidade
 
Relatavam as velhas ciganas
Nos serões do acampamento
Inflamadas pelo crepitar das chamas
Em noites de frio e de vento
 
Que um ginete galego
Errava p'las aldeias serranas
Dia e noite sem sossego
Demandando amor e fama
 
Desencantado de procurar
Chorou a juventude esbanjada
Até no seu rosto se sulcar
Um rio de mágoas abafadas
 
Trotou por montes e vales
Pisou a fronteira e partiu
Para afogar os seus males
Junto ao pequeno rio dormiu
 
Diz a lenda talvez incerta
Que o sol o foi encontrar
Com a palma da mão aberta
E nela uma flor a germinar
 
Animado por tal ventura
Decidiu junto ao rio ficar
Convencido de que a fortuna
Acabara de o bafejar
 
Desperta do transe a cigana
Diz em mim ver outra sina
Mais sombria e mais profana
Pouco risonha e franzina
 
Suspirando à’rrematar
Sorri, de sorriso maroto
Aconselhando-me para não me cansar
Que corra sempre por gosto.

FALTA-ME TUDO :


Falta-me tudo o que tenho para ser feliz, porque a insatisfação…
    Espera! Vou reordenar o raciocínio e excluir alguns advérbios.
    Começo a repetir-me. Eu que abomino repisar as palavras, salvo quando pretendo dar ênfase a uma ideia, concluo-me despido de conteúdo e vazio de inspiração. Ah se fora como os outros! Os que são alegres, nulos na sua vanidade. Prosseguir o destino anulando-me, erguendo o estandarte da não-existência. Rasurar-me como a frase escrita a lápis na folha parda da sebenta das intenções. Atribuir à angústia a responsabilidade do desencanto e culpabilizar a náusea pela incapacidade do riso. Sei de florestas que jamais pisarei onde os animais continuam selvagens. Conheço a existência de montanhas cravejadas de grutas em cujas abóbadas as estalactites se conservam virgens. Idealizo-me gota cristalina a descair pelo calcário. Sonho… Mas acordo, e pela janela aberta da manhã, entra a frescura do dia, e o rebuliço ruidoso da civilização desperta-me para o egoísmo competitivo em que cada qual, eu incluído, só presta atenção ao seu pequeno umbigo.  

NÃO DEVO PERMITIR:


Não devo permitir que a raiva se aposse de mim. Podem chover estocadas e das negras e ameaçadoras nuvens caírem cântaros de fel sem que por tais contingências abdique ou retroceda no rumo que tracei para mim.
    Há combates fáceis e vitórias impossíveis. Ocasiões soberanas de descrença, espreitando quais salteadores dissimulados em qualquer esquina, prontos a saltarem das sombras, imitando os farrapos que a ventania agita e os transfigura em vultos fantasmagóricos que rabiscam uma trama nas nuvens, ao critério da imaginação de quem os vislumbra.
    Tecer um enredo é observar. A verdade não existe a não ser os proveitos que dela colhemos. E se a realidade é inexistente e dela retiramos frutos, as ilações terão que ser consentâneas com a institucionalizada noção de uma génese cultural. Esta dedução pessoal sugere que me estou a contradizer visto o vazio não gerar nada. Na esterilidade dos desertos, e eu sou areia, estalam os cristais, o que pressupõe uma alteração de estado, e toda a mutação implica Ser, ou estarão as ciências confundidas? Presumo que a vida é a transformação de qualquer matéria ou estado e as sensações são a vida na forma animal. Sendo o pensamento a reflexão do sentir (porque não serão os animais eles todos racionais, ou são-o em inaproximáveis paralelismos), as sensações são o motor da esquematização do pensamento, e perdoem-me a polémica, qualquer ordenação é um aviltamento dos impulsos naturais porquanto o acto de pensar é em si mesmo, tanto para o mal como para o bem, a castração dos imprevisíveis instintos.