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21 de jul. de 2010

Á CARTA DE SUICIDIO:DÉA

Carta de suicídioPDFImprimir
Escrito por Guilherme Sakuma   
Ter, 22 de Junho de 2010 23:34
Se eu me olhasse no espelho nesse instante tenho certeza de que veria o Sr. Olhos Insensíveis, o Sr. Olhos Trincados, o maldito desgraçado que só pensa em si mesmo e não derrama uma lágrima sequer pela própria mãe mas é capaz de derramar várias pra si mesmo, o Grande Injustiçado, o Cristo Crucificado pela enésima vez. E a culpa é toda sua.
Fazem dias que eu não durmo e não me alimento direito, sinto como se estivesse prestes a levantar vôo. Meu fígado está uma lástima, mãos vermelhas demais, dor de cabeça lancinante e qualquer cheiro me fazendo enjoar mais que mulher grávida. A Loucura tentando arrombar a porta dos fundos a pontapés e às vezes conseguindo.
Como foi que eu fui acabar assim? É simples, resolvi me matar de tanto beber neste quarto de hotel pulguento onde eu moro faz quase um mês. Desde então ninguém tem notícias minhas. Gastei praticamente todo o (pouco) dinheiro que tinha guardado; só me restou o suficiente pra mais duas diárias no hotel das pulgas e das baratinhas. Tudo bem, não preciso de mais do que dois dias. Se eu não morrer de tanto beber, pulo da janela. Acredito que seja alto o suficiente.
Agora você deve estar pensando que eu provavelmente tenho um bom motivo pra querer acabar com tudo. A verdade é que eu não tenho. Não pra você. Quer dizer, você não consideraria uma boa razão. No entanto, pra mim é. Calma, vou te dizer quais são as minhas boas razões, mas antes, vou te dizer quais não são elas...

Ah, mudei de idéia. Não vou dizer merda nenhuma. Estou bêbado. Trêbado. Trêbado e cansado. Cansado demais pra qualquer coisa. Não quero mais me fazer compreender, não quero mais continuar dando murro em ponta de faca. É isso. Você venceu.
Está feliz agora? Comemore. Porque não está comemorando? 
O quê? Agora você está dizendo que “não é bem assim”? Sinto muito, tarde demais.
Após pensar muito sobre o assunto cheguei à conclusão que esse era o único modo d’eu fazer com que você realmente me “escutasse” pela primeira e última vez e se arrependesse por tudo o que fez contra mim e por tudo que deixou de fazer ao meu favor. Desculpe, eu disse que tinha “motivos” pra acabar com tudo; na verdade só tenho um: ME VINGAR DE VOCÊ.
E dessa vez você não vai poder dar o troco. Não vai poder me espancar como fazia quando eu era criança; não vai poder rir e fazer piada da minha opção sexual nos churrascos da família; não vai mais dizer que amaldiçoa o dia em que eu nasci; não vai mais encher a cara e bater na mamãe culpando ela pelo filho que deu desgosto.
Não vai mais poder me chamar de maricas, bichola ou veadinho porque eu não tive coragem de ir até o fim com esse meu plano, pois eu fui. E é por isso que você está lendo essa carta agora.

Só mais uma coisa: EU NÃO TE PERDÔO.

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