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21 de nov. de 2009

NÃO DEVO PERMITIR:


Não devo permitir que a raiva se aposse de mim. Podem chover estocadas e das negras e ameaçadoras nuvens caírem cântaros de fel sem que por tais contingências abdique ou retroceda no rumo que tracei para mim.
    Há combates fáceis e vitórias impossíveis. Ocasiões soberanas de descrença, espreitando quais salteadores dissimulados em qualquer esquina, prontos a saltarem das sombras, imitando os farrapos que a ventania agita e os transfigura em vultos fantasmagóricos que rabiscam uma trama nas nuvens, ao critério da imaginação de quem os vislumbra.
    Tecer um enredo é observar. A verdade não existe a não ser os proveitos que dela colhemos. E se a realidade é inexistente e dela retiramos frutos, as ilações terão que ser consentâneas com a institucionalizada noção de uma génese cultural. Esta dedução pessoal sugere que me estou a contradizer visto o vazio não gerar nada. Na esterilidade dos desertos, e eu sou areia, estalam os cristais, o que pressupõe uma alteração de estado, e toda a mutação implica Ser, ou estarão as ciências confundidas? Presumo que a vida é a transformação de qualquer matéria ou estado e as sensações são a vida na forma animal. Sendo o pensamento a reflexão do sentir (porque não serão os animais eles todos racionais, ou são-o em inaproximáveis paralelismos), as sensações são o motor da esquematização do pensamento, e perdoem-me a polémica, qualquer ordenação é um aviltamento dos impulsos naturais porquanto o acto de pensar é em si mesmo, tanto para o mal como para o bem, a castração dos imprevisíveis instintos.  

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