Amizade – Um Ensaio, Uma Reflexão
Por Joséli Costa Jantsch Ribeiro
Há algum tempo venho pensando em escrever sobre a Amizade, esta virtude tão bela. Comecei a pensar nisto, quando algumas das pessoas com quem me relacionei e com quem ainda me relaciono, ainda que virtualmente apenas, começaram a fazer algumas indagações interessantes: “Sabe, estou me sentindo meio sozinho, as pessoas não me procuram mais com a frequência de antes, não sei o que está acontecendo?!”; “Os amigos que pensei que ficariam pra sempre do meu lado estão se distanciando, por quê?” ou ainda, “As amizades que faço hoje, não são como as de outros tempos, sinto que são superficiais, falta alguma coisa, mas não sei bem o que é!”.
Enfim, várias formas de dizer: “Socorro! Por que todos estão desaparecendo?”. Antes de acharmos um por que para tal situação que acaba por acontecer na vida de todos nós, mais cedo ou mais tarde; devo dizer que os verdadeiros amigos, mesmo que distantes não nos abandonam jamais!
Agora, se as pessoas a quem você costuma chamar de “amigas” estão, lentamente, te deixando de lado ou te procurando só para falar de assuntos sem importância ou para te convidar pra algum evento social (churrascos, festas, etc.), bem acho que está na hora de você rever o seu conceito sobre Amizade, para após começar a pensar em refazer o seu círculo de amigos, um desafio para aqueles que se auto-intitulam “super sociais”, não é mesmo?
A minha constatação sobre este tema, não será a primeira e nem a última, aliás, são muitas as linhas de pensamento sobre este tema, li muito e optei por seguir a linha de pensamento adotada por Aristóteles em sua obra intitulada Ética a Nicômaco.
Segundo Aristóteles, a Amizade é ou envolve um estado de caráter, uma virtude. Há três tipos de amizade, a primeira fundamenta-se no prazer recíproco da companhia (amizade de prazer); a segunda, na utilidade da associação (amizade de utilidade) e, por fim, aquela que se baseia na admiração mútua (amizade na virtude). E, assim como, os motivos da amizade diferem, também diferem as formas de afeição e amizade.
Aristóteles afirma que, para determinarmos o que é admirável em uma amizade, devemos ter em mente que, sempre que amamos alguém ou alguma coisa, nós o fazemos porque o objeto nos parece útil, agradável ou bom. Temos então, que o amor é um conceito amplo e expandido, que se direciona a vários tipos de relacionamento, inclusive à Amizade. Pois, para os verdadeiros amigos, desejamos coisas boas para o benefício deles e não apenas para o nosso próprio benefício.
Ora, não vamos nos enganar, o problema começa quando temos alguém a quem chamamos de “amigo”, mas desejamos o bem dele de acordo com o motivo de nossa amizade.
Então, temos que, àqueles cujo motivo é a utilidade, não têm realmente Amizade pelo outro, mas sim e, apenas, se interessam pelo seu semelhante na medida em que recebem algo em troca. Já, àqueles cujo motivo é o prazer, tem uma Amizade graciosa, que se baseia em momentos agradáveis (um churrasco, um festa, um acontecimento social qualquer), mas não têm alguém que realmente se importa com eles como indivíduos, pois querem apenas desfrutar do prazer superficial de uma companhia.
Portanto, disto podemos concluir: aqueles que têm para si a Amizade-Utilidade amam seus amigos pelo que é bom para si mesmos e, aqueles que se utilizam da Amizade-Prazer, o fazem apenas pelo que lhes é prazeroso. Em ambos os casos, a pessoa amiga não tem valor pelo que ela é, mas sim, na medida em que ela é útil ou agradável! Tais amizades estão eternamente fadadas às circunstâncias do destino, pois as pessoas não são valorizadas pelo que são, mas pelo tipo de vantagem ou prazer que podem oferecer; a sua dissolução é apenas uma questão de tempo, já que se baseiam pura e simplesmente na troca de interesses e se esta não permanecer em equilíbrio, a amizade não sobreviverá.
Então, a Amizade perfeita é aquela baseada na bondade e na pureza do coração, pois somente os bons em si mesmos, conseguem desejar que seu amigo também tenha algum benefício ou prazer. Esta é a verdadeira Amizade na virtude e somente ela é permanente.
Infelizmente, são muito raras as Amizades desta espécie, pois pessoas assim estão cada vez mais difíceis de achar. E, além disto, este tipo de amizade requer intimidade e dedicação de tempo, sem que para isto tenhamos que abrir mão de nossos interesses (o Ser Humano não é totalmente altruísta)! Temos sim que pensar que, ao ajudarmos um amigo estaremos aumentando a quantidade de bem existente e, conseqüentemente o nosso bem-estar de modo geral.
Para tudo isto dar certo, devemos ter o coração no lugar certo e, isto exige que vejamos o nosso amigo como um “outro eu”, palavras muito sábias de Aristóteles, que quis dizer com isto que, assim como devemos amar aquilo que há de mais nobre em nós, também devemos amar aquilo que é nobre e bom em nossos amigos (para isto devemos conhecê-los de fato e não apenas compartilharmos algum tempo com eles).
Lembre-se sempre, que o amor por um amigo, tido como nosso outro eu, deve ser nada mais que uma extensão do tipo de amor que temos ou deveríamos ter por nós mesmos, aquele amor que não se baseia jamais no egoísmo, na egolatria ou no egocentrismo!
Por todas estas razões, a Amizade é, sem dúvida alguma, o melhor escudo contra o auto-engano, mas isto já é uma outra estória…
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