Pacientes vindos de cidades vizinhas encontram moradia em casas de Ajuda:Não são apenas os médicos, enfermeiros e assistentes sociais os responsáveis pela cura de doenças. Há também algumas pessoas que doam seu tempo sem nada pedir e instituições que de tudo fazem para ajudar os pacientes. E que, muitas vezes, são quem viabilizam o tratamento. "Não suportaria a dor física e psicológica de ter que voltar todos os dias para minha cidade. Desistiria antes mesmo de entrar no hospital", revela Arminda Pereira da Cunha, moradora de Coromandel, mas que faz radioterapia todos os dias no Hospital do Câncer em Uberlândia.
O que salva a vida de Arminda é um espaço singelo, mas de uma serventia sem limites. Há dois dias ela repousa na Casa Assistencial São Francisco de Assis, no bairro Umuarama, que acolhe outros 12 pacientes oncológicos junto com seus acompanhantes. Lá os pacientes têm alimentação, hospedagem e todo apoio que precisam para continuar o tratamento. Todos os moradores são de cidades vizinhas, sem recursos para pagar sequer a alimentação enquanto cuidam da saúde. "Quando meu pai descobriu a doença pensei: o que fazer? Se fosse pagar hotel por uma semana, até que conseguiria, mas por meses de tratamento seria impossível", relata Valéria Gomes, de Patos de Minas, cujos pacientes oncológicos são encaminhados a Uberlândia.
Na cidade, existem várias casas de ajuda a pacientes que, além da doença, têm também que enfrentar a falta de recursos nos hospitais da sua cidade, conseqüentemente vários quilômetros de estrada e uma questão crucial: onde ficar durante o tratamento. Se não houver resposta, muitos desistem de cuidar da própria saúde, outros se aglomeram nas portas dos ambulatórios para "esperar o tempo passar" e vários voltam todos os dias para casa, mesmo depois de horas de tratamento. Se uma quimioterapia ou sessão de hemodiálise já debilita qualquer paciente, imagina como seria encarar o balanço dos buracos nas estradas que cortam a região simplesmente duas vezes por dia.
É por isso que, para estes pacientes, as casas de apoio são verdadeiramente uma "casa". "Muito melhor que ficar com parentes. Tenho liberdade total e não incomodo ninguém. É como se estivesse na minha casa", conta Maria Cecília Mendonça Rodrigues, de Patos de Minas, que mora provisoriamente na Casa de Hospedagem Betesda. Os benefícios, segundo os próprios pacientes, vão muito além da hospedagem. Longe do ambiente de um hospital — deprimente para muitos -, eles têm com quem conversar o dia todo, trocam experiências sobre a doença, aprendem outras atividades manuais tais como tricô e fuxico, cuidam da horta onde plantam suas próprias hortaliças e ainda têm o apoio de psicólogos e dos próprios coordenadores da casa.
A depressão, que várias vezes vem junto com o câncer, é esquecida nos momentos de lazer. Em vez de pensarem no sofrimento, no "porque isto aconteceu comigo", no "como vou pagar os medicamentos" ou nas dores do tratamento, os novos amigos se distraem. "Esta casa foi uma bênção para mim. Ninguém gosta de hospital, aqui às vezes até esqueço que estou doente", revela Sidilina Romana Tomaz, hóspede da Casa Betesda que mora em Ituiutaba. "É claro que é sempre ruim ficar fora de casa, ter que enfrentar uma doença dessas. Mas com o apoio que temos tudo fica mais fácil. Tenho até esperança de melhorar mais rápido", conclui Arminda Cunha, de Coromandel.
Casas sobrevivem de subvenção e ajuda da comunidade
Ajudar ao próximo dependendo apenas de doações não é fácil. A maioria das casas de apoio de Uberlândia recebe uma subvenção da Prefeitura Municipal que consegue quitar 50% das despesas mensais tais como aluguel, energia e pagamento de funcionários. O restante fica por conta da comunidade, que ajuda quando e como pode. Na Casa Assistencial São Francisco de Assis, por exemplo, alimentação, remédios e tudo o que for preciso desde sua fundação, em 2003, é pago com o lucro da Festa Junina, que acontece na capela com o mesmo nome a partir de junho, no bairro Umuarama.
Já a Casa Betesda, que completou no ano passado 10 anos de ajuda aos pacientes, sobrevive com a subvenção e por meio de doações. Até as atividades são realizadas por voluntários, que não deixam de doar seu tempo para ensinar e ajudar quem precisa. Como a Casa também atende pacientes e acompanhantes de todas as patologias além do câncer, são mais de 50 pessoas que transitam diariamente nos corredores e refeitório da instituição. Por isso a doação precisa ser reforçada e a Casa Betesda conta com a ajuda da Igreja Presbiteriana para conseguir ajudar a todos os que procuram. "Doamos aos pacientes inclusive produtos de higiene, limpeza, roupa de cama, de banho, além dos lanches e consultas com psicólogos", informa a coordenadora Lídia Guimarães Gonçalves.
Religião
Apesar de não ser um item excludente na aceitação de pacientes, em ambas as casas de apoio a religião permeia as conversas. E o momento de oração é reservado todos os dias aos que querem participar. "Convidamos a todos, os que quiserem, rezam conosco", explica o presidente da Casa São Francisco de Assis, Euclides Alberto Morais Silva. "Isto às vezes se torna essencial ao paciente, principalmente os que têm alguma religião. Eles se apegam muito a Deus para ajudá-los a suportar o tratamento", explica a diretora social da instituição, Yolanda Rocha e Silva Rissi. "Este apoio espiritual muitas vezes torna a cura algo mais fácil. Assim como as palestras de voluntários e da ajuda dos psicólogos. Vale de tudo para amenizar o sofrimento", finaliza Lídia Gonçalves.
Pacientes de Uberlândia também têm assistência própria
Os pacientes oncológicos de baixa renda de Uberlândia também têm espaço nos corações dos voluntários. Para atendê-los, foi criada em 2003 a Associação de Amparo a Crianças, Adolescentes e Adultos com Câncer (Acraac). Apesar de não oferecer hospedagem, quem por lá passa durante o tratamento garante que a ajuda na compra de todos os medicamentos, as aulas de relaxamento e os grupos de discussão tornam a doença muito mais fácil de ser encarada.
Foi assim que Juscelino Alves Rabelo diz ter conseguido superar o câncer. Com apenas a metade do estômago, intestino e pâncreas, Juscelino ainda precisa conviver com uma lesão no fígado que pode fazê-lo se submeter a outra cirurgia e consultas todo mês para acompanhar o desenvolvimento da lesão. "Quando descobri a doença, tinha sete tumores. Fiquei chocado, pensei que não agüentaria. Principalmente por causa das 21 sessões de quimioterapia, cada uma durando 5 dias. Não é fácil", relata.
É por isso que, desde que está morando em Uberlândia — Juscelino Rabelo é natural de Patrocínio -, não falta um dia sequer às aulas de relaxamento e terapia de grupo. "Venho aqui de manhã, nem vou embora, fico aqui para almoçar e fazer a atividade da tarde. Em casa fico depressivo, com a mente cansada. Aqui converso, me distraio, eleva meu astral", revela. E, além de tudo, diz Juscelino Rabelo, ainda ganha uma cesta básica por mês, caixas de leite e os remédios que precisa tomar. "Sou aposentado, mas ganho um salário que vai todo para o aluguel. Se não fosse a associação, não sei o que seria de mim", finaliza.
Pacientes
Para participar da Acraac, é preciso apresentar um documento comprovando ser portador de câncer. Os funcionários da associação fazem um balanço sócio-econômico em visita às residências e avalia as necessidades de cada paciente, sejam elas econômicas ou psicológicas. "Não temos tratamento clínico, por isso os pacientes precisam estar em tratamento ou em período de recuperação. Mas damos todo apoio necessário, desde fraldas, medicamentos manipulados ou convencionais a alimentos", explica a assistente social Adriana Aparecida Gomes da Cruz.
O evento mais esperado, principalmente pelas mulheres, é o Dia da Beleza, quando voluntários do Curso Profissionalizante do Senac arrumam cabelos, unhas e sobrancelhas das pacientes. "A doença destrói a vaidade das mulheres. Todos os cabelos do corpo caem, muitas não conseguem se olhar no espelho. Neste dia todas se animam a voltar a cuidar da própria beleza", avalia Adriana Cruz.
Associações apóiam doentes crônicos em tratamento
Os pacientes com doenças crônicas, tais como hemofilia e anemia falciforme, também precisam de ajuda. Principalmente aqueles que não têm condição financeira sequer de pagar um passe de ônibus para ir à consulta. Por isso o papel das associações é essencial para auxiliar no tratamento. "Faço hemodiálise há 6 anos e sei como uma pessoa fica após um dia inteiro ligado a uma máquina. É uma tortura os pacientes terem que voltar para suas cidades no mesmo dia. Por isso muitos dormem na porta do hospital", informa o presidente da Associação dos Renais Crônicos Doadores e Transplantados de Uberlândia, Natalino José Augusto.
É também função das associações fiscalizar o atendimento aos pacientes e formalizar parcerias para compra de medicamentos e fisioterapia. "Muitas vezes o paciente vem de fora, a taxa de hemoglobina está baixa e ele precisa ficar para fazer uma transfusão de sangue, mas não tem dinheiro nem para o almoço. Aqui nós os amparamos inclusive com cesta básica", explica o secretário da Associação dos Dependentes de Hemoderivados de Uberlândia (Asdhu), Diego Pereira Nobre.
A boa notícia é que ambas ganharam terreno da Prefeitura Municipal para construírem sua sede. A Asdhu já começou a levantar a base graças à doação de materiais de construção pela comunidade; já a dos renais crônicos ainda aguarda verbas para começar a erguer as paredes. Nos dois locais, haverá um espaço reservado aos pacientes de cidades vizinhas que precisam dormir em Uberlândia para se tratarem. "No nosso projeto previmos mais alojamentos e espaço para atividades. Assim não é preciso ter lista de espera por um lugar, como às vezes acontece", conclui Euclides Silva, da Casa Assistencial São Francisco de Assis, que também ganhou um terreno, mas depende de doações para construir sua sede.
Como ajudar:
Casa Assistencial São Francisco de Assis
Rua Davi Canabarro, 972 — bairro Umuarama
Informações: 3212-7185
Banco Bradesco
Agência: 0265
Conta-corrente: 8142855-1
Casa de Hospedagem Betesda
Avenida Maranhão, 2.162 — bairro Umuarama
Informações: 3232-6952
Caixa Econômica Federal
Agência: 3961 — operação 03
Conta-corrente: 500089-9
Associação de Amparo a Criança, Adolescente e Adulto com Câncer (Acraac)
Avenida Araguari, 280 — bairro Martins
Informações: 3217-9844 ou 3235-3294
Associação dos Dependentes de Hemoderivados de Uberlândia (Asdhu)
Rua Rio Grande do Norte, 2.444 — bairro Umuarama
Informações: 3211-0423
Associação dos Renais Crônicos Doadores e Transplantados de Uberlândia
Rua Poços de Caldas, 841 — bairro Osvaldo Resende
Informações: 3214-5967
30 de out. de 2009
UMA CASA PARA QUEM ESTA TÃO LONGE:
Postado por
RÊNATA .V. RÓS
às
sexta-feira, outubro 30, 2009
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