Retrato Virtual de uma Vida Real !!!
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Um dia cruzei, por acaso um olhar que, do fundo do silêncio, me gritou este desabafo:
"
Encontro-me na esquina da vida, como sempre estive! Sinto que nasci por
capricho e para orgulho dos outros, uma espécie de brinquedo, uma "
caniche " de estimação, de raça, para causar inveja aos menos
afortunados.
À força de me dizerem que era linda, bela, achei-me
feia! Quem tudo me quis dar, tudo me fez perder, porque se esqueceram
que a minha vida só a mim a competia viver!
Casei tarde, mas não
vivi a vida e muito menos o amor, que sempre foi muito retórico e
platónico no meu corpo, porque aquele que o meu espírito sonhava e
vivia nunca passou de uma ilusão que só amargura e frustração deixou no
meu coração apaixonado.
Nasci fonte, mas as convenções e as
exigências sociais tornaram-me poça de futilidades, que não eram
minhas. Os orgulhos dos outros transformaram-me numa lixeira de
vaidades.
Depois, o amor que tive que escolher nunca foi igual
ao que sonhei, ao que desejei e surgiram as frustrações e as desilusões
que originaram depressões! E assim estoirei, como um balão que não
podia aguentar mais vento, mais bafo viciado.
Sentia-me uma flor
seca, que definhava a cada dia que passava. A minha vida era um deserto
árido e as conquistas profissionais nunca passaram de miragens
sentimentais, oásis mirrados...
Com a virtualidade quis
desforrar-me de tudo e recuperar o tempo perdido, os amores falidos,
mas atropelei tudo, porque me esqueci de me purificar primeiro, de
exorcizar os meus pecados e os meus recalcamentos existênciais.
Agora,
sinto que estou numa encruzilhada da vida e ando meio perdida entre os
amores virtuais e os reais, entre a ilusão e o medo de fazer a escolha
errada, de falhar novamente, porque eu sei que, desta vez, não posso
falhar: seria traumatizante, fatal! Porque tenho que escolher?
Já provei que posso fazer e assumir as minhas escolhas, de comandar a minha vida, porque agora penso já sei dizer não! Mas...
duvido, hesito, receio não ter força bastante para aguentar a pressão do peito, das minhas entranhas e da sociedade!
Sinto-me
frágil e sei que precisava de um anjo, um guerreiro para guiar e
proteger, mas isso eu não posso ter, porque sou eu que tenho que viver
a minha vida, com todas alegrias e tristezas!
Pedi e exerci a
Liberdade, fugi da gaiola, mas cá fora sinto que só estou bem lá
dentro! Acho que nunca fui e nem serei realmente livre e completamente
feliz. No fundo, eu já me habituei ao meu mundo viciado... e nunca me
desliguei e libertei do passado!
E
porque o passado está demasiado presente na minha vida, me sinto uma
ave ferida, a voar à deriva, sem rumo certo e sem muito bem onde me
aninhar... Ah! se alguém me pudesse ajudar !!!... Mas será que eu quero
realmente ser ajudada? Acho que não e entrei num caminho de ilusão que
poderá desembocar na minha perdição..."
este
retrato é pura ficção, fruto de uma sugestão, uma impressão, um
pressentimento e qualquer semelhança será pura coincidência entre a
virtualidade e a realidade, a menos que elas tenham decidido trocar de
lugar enquanto escrevi este retrato e o meu olhar as tenha fisgado
assim! DÉA
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